A divulgação na sexta-feira de um Produto Interno Bruto (PIB) praticamente estagnado no primeiro trimestre, aliada ao fraco nível de atividade demonstrado pelos recentes números da produção industrial, já tem feito economistas apostarem que o Banco Central agirá com mais vigor na redução dos juros neste ano, baixando a taxa básica ao nível de 7% ao ano, por exemplo, como acredita o ex-Secretário do Tesouro Nacional e economista-chefe do banco J.Safra, Carlos Kawall.
Goldman Sachs, Bradesco, Tendências e MB Associados ainda não têm esse nível de taxa como cenário principal, mas admitem que, desde a última sexta-feira, as chances de essa marca ser alcançada ainda em 2012 estão crescendo.
Na avaliação de Kawall, a conjuntura é mais favorável à redução dos juros do que à ampliação de estímulo à economia pela política fiscal. “As taxas de juros nominal e real no Brasil estão altas em relação ao patamar registrado em outros países. Nunca pensei que veria taxa nominal negativa na Alemanha, como ocorreu na última sexta-feira”, destacou.
Segundo ele, seria até positivo que o governo incentivasse a demanda agregada doméstica com aumento dos investimentos públicos, mas há algumas limitações para isso. Uma delas é de ordem gerencial, que não permite o avanço dos gastos oficiais com projetos de longo prazo. Um outro fator seria a limitação legal da Lei de Responsabilidade Fiscal, segundo a qual se o governo fizer desoneração tributária precisará encontrar outras fontes de recursos para compensar a redução de caixa. “Haveria espaço para ampliação dos gastos em custeio pela administração federal, mas essa via não é apropriada, dado que ela se torna uma despesa permanente com baixa eficiência para melhorar questões estruturais da economia, como a ampliação dos investimentos”, disse.
Por isso, Kawall espera que o BC mantenha o ritmo de cortes da Selic de 0,5 ponto percentual nas três próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central.
A economista e sócia da Tendências Alessandra Ribeiro vai na mesma linha. Antes da divulgação do resultado da economia entre janeiro e março, na sexta-feira, ela avaliava que o Copom cortaria os juros até os 7,5% em 2012. “Contudo, não me causaria surpresa se o BC levasse a Selic para 7% neste ano”, destacou.
Segundo Alessandra, o PIB deve continuar num ritmo bem abaixo do seu potencial de entre 3,5% e 4% neste segundo trimestre, fato que seria repetido pelo quarto trimestre consecutivo. Isso, disse, indica ser vital para o BC continuar cortando os juros com algum vigor, mesmo que tenha indicado recentemente que tal velocidade ocorreria com parcimônia. “A Europa está em crise devido à questão fiscal. Se isso piorar também por aqui, a imagem do País perante o mundo poderia ser prejudicada, depois de já ter piorado muito recentemente devido ao constante ativismo do governo na gestão da política econômica”, afirmou. Ela revisou a previsão de crescimento do País deste ano, de 2,5% para apenas 1,9%.
Projeções da pesquisa Focus mantém taxa em 8%
De acordo com a evolução recente das distribuições de frequências das expectativas de mercado, 30% das projeções dos analistas que participam da Pesquisa Focus concentravam suas projeções, em 1 de junho, em uma Selic de 8,5% no fim do ano. A Focus compila as previsões de aproximadamente 100 instituições financeiras. A mediana das projeções para a taxa Selic no final deste ano manteve-se em 8% ao ano, de acordo com os dados divulgados nesta segunda-feira pelo Banco Central.
No documento divulgado em 30 de abril, 35% dos analistas consultados pela pesquisa concentravam suas previsões em uma taxa de 9,5% ao ano no final de 2012. Em 30 de novembro do ano passado, 35% dos analistas projetavam para o final deste ano uma Selic em 10% ao ano. “Quando olhamos para um período mais longo, verificamos um deslocamento maior das expectativas”, diz o economista da Rosenberg & Associados, Daniel Lila.
Com o movimento de queda mais forte da Selic, o IPCA tem se mantido mais rígido. Entre as distribuições de frequências (de 30 de abril e de 1 de junho), não houve alteração. As expectativas para o IPCA permaneceram concentradas em 5,2%. Mesmo em comparação a março, a queda é pequena, saindo de 5,4% para 5,2%.
O mercado reduziu a previsão de crescimento do PIB para este ano, após a divulgação do resultado quase estagnado da economia durante o primeiro trimestre. Segundo o boletim Focus, os analistas do mercado financeiro esperam agora que o PIB brasileiro cresça 2,72%, em vez dos 2,99% que previam na semana passada.
Com expectativa de economia mais fraca, a previsão para a inflação oficial, o IPCA, caiu de 5,17% para 5,15% ao ano. A previsão para o câmbio ao fim do ano manteve-se estável, com o dólar fechando o período valendo R$ 1,90. O mercado estima que a moeda estará cotada também a esse valor na média do ano.
Continuidade da crise na Europa deve afetar a decisão do Copom
O codiretor de pesquisa para mercados emergentes da América Latina da Goldman Sachs, Alberto Ramos, afirmou que “está aberta a porta para que a taxa (Selic) chegue a 7% neste ano.” Isso poderia ocorrer especialmente porque “a continuidade da piora da situação na Europa pode afetar ainda mais as expectativas de investimentos das empresas e do consumo no Brasil, como já ocorreu no primeiro trimestre”, disse. “Assim, o BC poderia estender por mais tempo o corte dos juros para tentar reanimar o consumo com mais rapidez”, disse.
O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, disse ser bem provável revisar para baixo as atuais previsões de Selic a 8% e de avanço do PIB de 2,5% neste ano. “O PIB encontra dificuldade para chegar a 2% neste ano. O pior da crise europeia pode não ter acontecido ainda, e há certa paralisação de investimentos e de empréstimos, o que prorroga a desaceleração de atividade. Por isso, será difícil ver recuperação evidente no segundo semestre”, apontou.
Segundo Vale, há espaço para que o BC reduza ainda mais a Selic, especialmente com a mudança da regra da caderneta de poupança. Para ele, a recente desvalorização do câmbio não deve provocar impacto na inflação, dada a fraqueza do nível de atividade. “Como implicitamente o BC está confortável com inflação ao redor de 5,5%, e ela em agosto estará rodando na casa dos 5%, é muito provável que o BC reduzirá a Selic mais um pouco, para 7,5% e não descarto podermos chegar a 7% no final do ano também”, disse. “Outra possibilidade é que, já na próxima reunião do Copom, em julho, a Selic caia 0,75 ponto percentual. Vamos ver a ata do encontro de maio para saber se há alguma sinalização sobre isso, mas os documentos do BC têm sido muito pouco sinalizadores de decisões futuras.”
Fonte: J. do Comércio
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