quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Oscar Niemeyer morre no Rio de Janeiro aos 104 anos de idade

 

Uma missa será rezada no hospital onde o arquiteto ficou um mês internado. Depois, o corpo segue para Brasília, onde será velado, e volta para o Rio de Janeiro, onde será velado e enterrado.

No Rio de Janeiro, o Sambódromo. Em Brasília, a belíssima capital. Marcos das duas cidades, e a genialidade exposta a céu aberto. Obras de Oscar Niemeyer, o poeta da curva.

O arquiteto morreu na quarta-feira (5) à noite aos 104. O corpo vai ser sepultado na sexta-feira (7), no Rio de Janeiro.

Oscar Niemeyer faleceu às 21h55. A esposa dele, Dona Vera, estava ao lado do marido. O último mês de vida ele passou no hospital e impressionou os médicos pela força de vontade de viver.

Até os últimos momentos ele permaneceu lúcido, só perdeu a consciência na quarta de manhã. E falava em novos projetos, novos trabalhos.

O corpo será levado para Brasília, onde será velado no Palácio do Planalto. Ele volta à noite para o Rio de Janeiro, onde será velado no Palácio da Cidade. O prefeito Eduardo Paes decretou luto de três dias. Ele será enterrado no Rio.

Oscar Niemeyer estava internado desde o dia 2 de novembro em um hospital na Zona Sul do Rio. Segundo a equipe médica, o estado de saúde de Niemeyer piorou nos últimos dois dias.

O médico Fernando Gjorup, amigo do arquiteto, fez o anúncio oficial. “Oscar Niemeyer vinha, desde ontem, apresentando sinais de nos exames laboratoriais piora e infecção respirat[oria. Hoje pela manhã, apresentou insuficiência respiratória, teve que ser entubado, ventilado por aparelho, e agora à noite ele não tolerou e veio a falecer às 21h55. Ele não falava sobre morte. Nunca falou. Ele falava em viver”, disse.

O arquiteto manteve o bom humor e a lucidez até um dia antes de morrer. “Ele só falava quando ele estava melhor. Ele pedia: ‘Preciso ir para casa. Eu estou cheio de coisa atrasada para fazer. Quero tomar vinho e preciso acabar alguns projetos’. Estamos todos muito sentidos e vamos sentir muita falta deste homem, deste brasileiro, deste modelo do tio. De tudo o que ele foi para o país e para família em especial”, lamentou o sobrinho Paulo Niemeyer.

Peter Gasper é cenógrafo e iluminador. Fez mais de 40 projetos com Oscar Niemeyer, no Brasil e no exterior. “Tem muitas obras ainda em andamento. Eu fico realmente honrado em ter sido amigo dele. Honrado em ter trabalhado com ele e honrado em continuar a trabalhar com ele. Ele se foi, mas eu continuo trabalhando com ele”.

O arquiteto Lauro Cavalcanti é o maior especialista em Niemeyer no Rio e também um grande amigo do arquiteto. “Tinha uma coisa muito ligada no trabalho dele, claro, mas também ligadíssimo em política, na vida, interessado nas coisas. Eu acho que a longevidade dele deu-se pela genética, mas também por este interesse vital nas coisas”.

O prefeito Eduardo Paes decretou luto oficial de três dias pela morte de Niemeyer. “Eu acho que a gente perdeu o um grande brasileiro, uma pessoa que a vida inteira acreditou até o fim nos seus ideais. Há três, quatro meses atrás ele só falava de futuro, só falava de projetos. E acho que Oscar é um revolucionário. É um homem que transformou”, afirmou.

O amigo Chico Buarque não quis gravar entrevista, mas divulgou a seguinte nota: “Oscar Niemeyer teve uma vida muito bonita. Foi um dos maiores artistas do seu tempo e um homem maior que a sua arte”.

Parentes e amigos de Oscar Niemeyer chegam a todo o instante ao hospital. A esposa do arquiteto, Dona Vera Lúcia, disse que haverá uma missa no próprio hospital.

Só depois disso o corpo deve ser levado, a princípio, ao Aeroporto Santos Dumont, onde embarca em um voo fretado para Brasília, para o velório, que acontecerá no Palácio do Planalto.

Ainda nesta quinta-feira o corpo será levado de volta para o Rio de Janeiro. Na sexta-feira, ele será velado no Palácio da Cidade. O enterro será no Cemitério São João Batista, na Zona Sul da cidade.

 

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Em carta de 1987, Niemeyer recusa festa de aniversário de 80 anos

Arquiteto disse querer 'completo anonimato' e se dizia 'homem qualquer'.
Em outro texto, manuscrito, Niemeyer 'explica' Praça dos Três Poderes.

Em carta de 1987 enviada um mês antes de seu aniversário de 80 anos ao amigo pessoal José Aparecido de Oliveira, então governador do Distrito Federal, Oscar Niemeyer, que morreu nesta quarta-feira (5), aos 104 anos, recusou convite para participar das comemorações programadas para a data.

Carta escrita por Niemeyer ao amigo José Aparecido, ex-ministro da Cultura, em que diz que não participaria de festa de seus 80 anos de vida (Foto: TV Globo/Reprodução)

Carta escrita por Niemeyer ao amigo José Aparecido, ex-ministro da Cultura, em que diz que não participaria de festa de seus 80 anos de vida (Foto: TV Globo/Reprodução)

No texto datilografado, o arquiteto afirmou que pretendia passar o aniversário “em completo anonimato” e afirma não ser merecedor das comemorações. "Primeiro, é um problema de consciência. Afinal muitos brasileiros que por maiores feitos os mereciam, não as receberam." Na carta, de 13 de novembro, Niemeyer explicou que não se sentia “no direito de tantas honrarias”.

Na verdade, meu amigo, passei pela vida como outro homem qualquer. Nada de excepcional. Os mesmos problemas de trabalho e subsistência, de sonhos, tristezas e fantasias"

Oscar Niemeyer, em carta de 1987

“Na verdade, meu amigo, passei pela vida como outro homem qualquer. Nada de excepcional. Os mesmos problemas de trabalho e subsistência, de sonhos, tristezas e fantasias”, escreveu. “Meu desejo hoje é passar meu aniversário em completo anonimato. Data que, a meu ver, não deve entusiasmar ninguém.”

Niemeyer se diz ainda apaixonado pela arquitetura. "Se trabalhei muito foi por ter como ofício um trabalho que me atraiu e apaixonou pela vida afora e se o desempenhei a contento foi porque o destino para isso contribuiu", diz em outro trecho. José Aparecido, que organiza a festa para o amigo, morreu em 2007, de insuficiência respiratória.

Vinte anos depois da recusa em participar da própria festa de aniversário, Niemeyer cedeu à celebração de seu centenário com familiares e amigos. Em 2007, cerca de 600 pessoas participaram da festa de 100 anos do arquiteto, na Casa das Canoas, projetada por ele em 1951, na Zona Sul do Rio de Janeiro.

Praça dos Três Poderes
Em outro texto do arquiteto, escrito de próprio punho, Niemeyer explica em três folhas uma de suas obras mais conhecidas, a Praça dos Três Poderes, em Brasília. Na carta, ele descreve a praça e o que ela representa – a demarcação em um mesmo espaço dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

Manuscrito de Niemeyer em que o arquiteto 'explica' seu projeto da Praça dos Três Poderes, em Brasília (Foto: TV Globo/Reprodução)

Manuscrito de Niemeyer em que o arquiteto 'explica'
seu projeto da Praça dos Três Poderes, em Brasília
(Foto: TV Globo/Reprodução)

“Deles depende a vida brasileira e as nossas próprias vidas. Daí sua importância, o aspecto monumental que sua arquitetura procura caracterizar, com os palácios contidos em formas regulares, enriquecidos por uma preocupação plástica diferente, mais livre, e sem dúvida mais brasileira”, escreveu.
A carta não é datada, mas foi escrita entre 1985 e 1988. Em um dos trechos, ele fala sobre a necessidade de se promover melhorias na praça. “Agora , com Sarney na Presidência e [José] Aparecido no Governo de Brasília, precisamos reabilitá-la. Concluir o museu”, escreve o arquiteto.

José Sarney foi presidente do Brasil entre 1985 e 1990. José Aparecido de Oliveira foi escolhido ministro da Cultura pelo presidente eleito Tancredo Neves, em 1985. No mesmo ano, já com Sarney na Presidência, ele foi nomeado governador do Distrito Federal, voltando ao ministério em 1988.

http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2012/12/oscar-niemeyer-morre-no-rio-de-janeiro-aos-104-anos-de-idade.html

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