Internado na UTI do Hospital Samaritano no Rio de Janeiro há três semanas, João Havelange luta pela vida e pela continuidade de uma campanha em torno de seu nome para a próxima disputa do Nobel da Paz. Em janeiro passado o dirigente de 95 anos foi indicado oficialmente por um grupo brasileiro credenciado pela fundação sueco-norueguesa. No entanto, a natureza do prêmio condiciona a participação à sobrevivência do ex-presidente da Fifa.
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"Estamos esperando ele se recuperar. Eu enviei a indicação dentro do limite de prazo. Já está registrado lá. Mas depende da melhora de saúde. O prêmio não pode ser concedido a um falecido, tem que estar em vida", diz João Ricardo Moderno, presidente da Academia Brasileira de Filosofia (ABF), responsável pela candidatura.
Credenciada oficialmente pela Fundação Nobel para sugerir nomes do país na disputa de literatura, a ABF preparou a indicação de Havelange [exceção aceita pelo instituto], apoiada no argumento de que o dirigente que completa 96 anos em 2012 promoveu a paz através da difusão do futebol como negócio gerador de empregos e justiça social.
Na carta endereçada ao comitê norueguês da Fundação Nobel antes do prazo limite, em 1º de fevereiro último, João Ricardo Moderno discorreu sobre o legado Havelange na presidência da Fifa, entre 1974 e 1998, com argumentos de que a administração do brasileiro gerou mais de 250 milhões de empregos diretos no universo do futebol, em várias esferas.
Se não for aprovada para 2012, a indicação fica na fila para os anos seguintes, caso o cartola esteja vivo.
Idealizador da indicação, o presidente da Academia Brasileira de Filosofia diz estar acompanhando a batalha do veterano dirigente na UTI através de contato com secretários do Instituto Havelange.
A ideia da indicação ao Nobel da Paz surgiu em 2010, quando João Havelange foi nomeado doutor honoris causa da Academia Brasileira de Filosofia. No entanto, o desenvolvimento da campanha naquele ano emperrou em razão de seguidos compromissos do dirigente ligados à Copa na África do Sul.
Além da questão de saúde, a iniciativa brasileira de brigar por um Nobel da Paz para João Havelange encara a posição atual do dirigente no cenário político do esporte como uma adversidade à causa.
FICHA TÉCNICA
NOME: Jean-Marie Faustin Goedefroid de Havelange
NASCIMENTO: 8 de maio de 1916, no Rio de Janeiro
FEITOS POLÍTICOS:
- De 1956 a 1974 presidiu a CBD (Confederação Brasileira de Desportos), que congregava, na época, 24 esportes e não somente o futebol
- Dirigiu a Fifa de 1974 a 1998. Organizou seis Copas do Mundo, visitou 186 países e trouxe a China, desligada por mais de 25 anos por motivos políticos, de volta à entidade
- Atuou nos bastidores políticos do COI no lobby pelos Jogos de 2016 no Rio de Janeiro
Em dezembro passado, Havelange renunciou como membro do Comitê Olímpico Internacional dias antes de a entidade anunciar decisão sobre casos de corrupção ocorridos nos últimos anos. Integrante do COI desde 1963, o brasileiro estava sob investigação por supostamente receber um pagamento de US$ 1 milhão [cerca de R$ 1,7 milhão] da ISL, extinta empresa de marketing esportivo ligada à Fifa.
A Justiça suíça ainda lida com o caso em questão e oficialmente admite ter o nome de dois altos dirigentes da Fifa que aceitaram devolver as propinas recebidas da ISL para não terem a identidade revelada. De acordo com reportagem veiculada pela rede britânica BBC no ano passado, os dois cartolas implicados seriam os brasileiros Ricardo Teixeira e João Havelange.
"As pessoas sérias deste país sabem reconhecer o legado de Havelange, têm orgulho do que ele fez para o esporte e para a humanidade", afirma João Ricardo Moderno, do lado de defesa do ex-presidente da Fifa.
Ao contrário dos outros prémios da mesma fundação, o Nobel da Paz pode ser atribuído a pessoas ou organizações que estejam envolvidas num processo de resolução de problemas. Geralmente o anúncio do vencedor acontece durante o mês de outubro.
DIRIGENTE SEGUE EM SITUAÇÃO DELICADA NA UTI
O veterano dirigente de 95 anos sofreu uma insuficiência cardíaca na madrugada de segunda-feira e teve de voltar para a UTI do hospital Samaritano, no Rio de Janeiro. O ex-presidente da Fifa foi obrigado receber ajuda cardiorrespiratória através de aparelhos, assim que deu entrada na unidade coronariana.
O boletim médico assinado pelo cardiologista João Mansur na segunda volta a mencionar que o "estado de saúde é grave e que Havelange continua recebendo tratamento com antibióticos venosos (injetáveis)". O dirigente passou os últimos dez dias na UTI menos invasiva, sem a necessidade de intubação. Com a crise das últimas horas, o paciente voltou a necessitar de aparelhos para respirar e sustentar os batimentos cardíacos, em níveis aceitáveis.
Havelange está internado no hospital Samaritano há 22 dias, lutando para controlar uma infecção no tornozelo direito. Os médicos já realizaram três cirurgias de drenagem na região, mas os resultados não foram comunicados.
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